Um Dia Inesquecível - por Margarida Lorena Zago

Um Dia Inesquecível - por Margarida Lorena Zago

Um Dia Inesquecível!

                       ( Lorena Zago)

 

 Mês de outubro. As 5ªs séries da EEB. São Pedro, estão fazendo uma  pesquisa sobre fósseis, durante as aulas de Ciências.

Mas só nos livros, a compreensão fica um tanto limitada.

Esta forma abstrata de estudar os conteúdos, deixa os alunos irritados, sem interesse, por se tratar de um assunto mais elaborado, saindo do cotidiano, para saberes mais complexos. Mas, como e onde estudar este assunto elencado pelos livros didáticos?

O que fazer e como fazer, para maximizar os conhecimentos de forma mais concreta?

A professora lançou um desafio aos alunos: quem tivesse a melhor ideia de pesquisar o conteúdo, fora dos livros, de forma interativa com a natureza, poderia expor suas sugestões. Nada é difícil, quando se deseja explorar o mundo, com recursos, que nem sempre se apresentam no cotidiano da escola.

Os insights foram instantâneos!

Mariana, uma das alunas, lembrou que seu pai tem um sítio, em que existem cavernas, mata nativa, e com frequência, avistam animais selvagens. Poderiam fazer uma tarde de pesquisa, nas terras de seu pai, se ele concordasse.

 Excelente ideia!

No dia seguinte, Mariana, volta com a resposta afirmativa, seu pai havia concordado em receber os alunos e professora, para um estudo em suas terras.

Os alunos vibraram de felicidade!

A professora também!

Estava tudo indo muito bem, mas, e  como, iriam se deslocar até as terras do Sr. Pedro, que morava a 6 km da escola?

Mariana e Matias, líderes da sala, tiveram outra ideia, iriam até a Prefeitura pedir o ônibus escolar, ao Prefeito. E, foi o que fizeram.

Voltaram com a anuência do Prefeito, data e hora marcada, para próxima semana. O passeio para a pesquisa estava confirmado!

O dia tão esperado transformou-se numa festa de euforia, alegria, e determinadamente, seriam pesquisadores de fósseis e outras espécies interessantes, que encontrariam por lá. Haveriam de estar atentos a qualquer manifestação, que se apresentasse a eles, durante a pesquisa.

No dia combinado, o ônibus chegou, e, foram à luta, alunos e professora Mafalda. Cantando, brincando, sorrindo, recitando poesias, ministrando aulas, imitando alguns professores, seguiram rumo ao sítio do Sr. Pedro.

Lá chegando desceram do ônibus e com toda educação, que nem sempre tiveram em sala de aula, cumprimentaram os familiares de Mariana, que estavam esperando com curiosidade, os novos pesquisadores.

Ficaram surpresos, com a quantidade de alunos de 5ªs séries, e, pela disposição e interesse, com que se apresentaram.

Após as saudações, tomaram um suco de frutas, oferecido pela mãe de Mariana, e logo receberam orientações do Sr. Pedro, sobre os atalhos até as cavernas, os cuidados que deveriam ter, em alguns trechos íngremes e escorregadios, bem como, a surpresa de poder encontrar algum animal selvagem por lá.

Nada assustava aqueles cientistas, ávidos por explorar as terras desconhecidas e, principalmente por sentirem-se livres, do espaço limitado das salas de aula.

Avisados pela professora Mafalda, deveriam caminhar sempre próximos, para que pudesse avistá-los a qualquer momento, e, fazer a intervenção, a cada novo fato que se apresentasse.

Subiram longas e sinuosas estradas estreitas, sempre com cuidados,  até avistarem as primeiras cavernas. A alegria era tanta, que não havia altura que os segurasse. A pessoa que encontrou mais dificuldade de interagir naquele contexto, foi a professora Mafalda. Mas sempre auxiliada pelos alunos, conseguiu alcançar seus objetivos,  explorando ao máximo aqueles momentos únicos e singulares. Estava bom demais, superava as suas expectativas, aquela visita de pesquisas. Era fantástico aquele passeio, com os alunos. Respiravam oxigênio, deslumbravam-se com as belezas da natureza.

As cavernas também mostravam novidades, apresentavam inúmeras estalactites, Essas formações são denominadas estalactites, quando estão no alto, e estalagmites, quando estão para baixo. Ambas são formações decorrentes do gotejamento de água, das fendas das paredes das cavernas, de rocha calcária, transportando parte do calcário desta. Ao entrar em contato com o ar, precipita um anel de calcita, na base desta gota. Este processo se repete, enquanto houver água penetrando pela fenda: cada nova gota dará origem a um novo anel de calcita, consolidando formas cônicas e pontiagudas, denominadas estalactites.

Mais uma novidade que não haviam visto tão de perto. Podiam tocá-las, senti-las.

Isto era no mínimo maravilhoso, diziam os alunos eufóricos, porque até então, só conheciam cavernas e estalactites, através de livros ou filmes, quando tinham acesso a estes recursos.

O dia prometia, e não deixariam por menos. Iriam à procura de animais silvestres, pelo menos, para avistá-los de longe. E isto, também se concretizou.  Viram algumas lebres, tatus, pequenos insetos, porcos do mato, aves de várias espécies, que sobrevoavam assustadas, com tanta euforia naquele mato, coisa que não era comum. Mas isto é o que os deixou mais alvoroçados.

A alegria era incontável!

Descendo das cavernas, passo a passo, para não escorregarem, fizeram uma fila indiana, e assim, de mãos dadas, tiveram os cuidados necessários, para que, o passeio de pesquisa tivesse sucesso, e, não deixasse ninguém machucado.

Mas de repente, dona Mafalda perdeu o equilíbrio, e lá foi ela, num só escorregão, desceu uns cinco metros. E, o pior de tudo, não conseguia levantar-se sem a ajuda de alguns alunos, que eram os mestres na arte de tomar providências. Foram até ela, e ajudaram-na a levantar-se. Motivo que os deixou dando gargalhadas, após verificarem de que estava tudo certo. Dona Mafalda continuava viva e riu muito, também! Isto não estava previsto, mas foi muito engraçado! Cômico!

Já de pé, dona Mafalda, sentiu algo machucando a sola de seus pés, examinaram-na, olharam em volta, para investigar o que lhe machucara os pés, e numa exaltação de euforia, riam e gritavam: - Encontramos! Encontramos! Pessoal, encontramos um fóssil!!! Dona Mafalda pisou em cima dele. Isto havia machucado seus pés!

 A dor passou mais que depressa. Escorregar até encontrar um fóssil, isto, no mínimo merecia ser festejado!!!  E foi!  Desenterrado da onde se encontrava a cabeça de um animal, até aquele momento desconhecido, foi o máximo deste dia. Este fora o primeiro objetivo, daquela visita às terras do Sr. Pedro.

O objetivo fora alcançado, e,  até superado em expectativas! Isto era maravilhoso!

Levariam a descoberta até o colégio, e, fariam a pesquisa em livros, para compararem a semelhança, com a cabeça de um macaco. Convidariam a diretora e outros professores de Ciências, para estudarem e socializarem o achado.

Fantástico! Fariam a demonstração às outras séries!

Mas o mistério não terminou ali.

Momentos após, em que todos os alunos estavam juntos, a mãe de Mariana, dona Mercedes, ofereceu um café reforçado aos pesquisadores e, deixou claro, que muito se alegrava em poder contribuir com a aprendizagem, do grupo ali presente.

Após tomarem o café, os alunos avistaram um pequeno riacho, atrás da casa de Mariana. Pediram à professora se poderiam ir até o riacho para refrescarem-se um pouco.

Com o consentimento do Sr. Pedro e sua esposa, confirmando que as águas eram baixinhas, dona Mafalda, deixou-os pularem, rolarem pelos pastos, grama verde limpinha, e, até ela passeou com seus pés, pelo riacho de águas cristalinas.

Isto era bom demais, para um só dia!

Quando finalmente o motorista do ônibus, anunciou que já estava na hora de voltarem, pois, este tinha o compromisso de recolher os alunos de diversas escolas e levá-los para casa, a turma de pesquisadores, despediu-se dos familiares de Mariana, externando sua gratidão, pela acolhida e atenção dispensada, com tanto zelo e carinho.

Felizes, cantando e vibrando, por todos os momentos maravilhosos, passados nesta tarde, adentraram ao ônibus e já foram contando todas as vantagens ao motorista, que ria animado com a euforia dos alunos.

Espalharam-se pelas poltronas do ônibus e ficaram muito a vontade, para voltarem ao colégio e poderem socializar, com os colegas de outras séries, as suas aventuras de pesquisa. Fora ótimo, aquele passeio de pesquisa e descontração. Voltariam com mais entusiasmo a estudarem outros conteúdos e esclarecerem sua curiosidade, com o achado.

Viajando e cantando, eis que, de repente, Serginho, um menino bem tímido, sem vontade de estudar, com aparência bastante pálida, o ano todo, manifestou  pela primeira vez, uma vontade.

Pediu à dona Mafalda, se poderia sentar um pouco, na poltrona ao lado dela.

Esta, admirada com o pedido, acolheu-o com muito amor. Pois durante ano, Serginho havia demonstrado cansaço, falta de atenção aos conteúdos ministrados, enfim, estava sempre ausente em pensamentos, sem vontade de fazer tarefas. E, quando perguntado pela professora, o que se passava, não respondia, ou dizia que não tinha vontade de conversar, nem de estudar, estava na escola, porque era obrigado, e bem na verdade, para alimentar-se da merenda, que provavelmente era a única refeição sadia, que fazia por dia.

Serginho sentou-se ao lado da professora e perguntou-lhe, se poderia dar-lhe um abraço.

Dona Mafalda, emocionada, disse que sim, receberia este abraço com muita alegria.

E perguntou: -- Mas o que está acontecendo com você, Serginho? Hoje você está feliz e deseja conversar?

-- Vamos lá, conte o que o fez mudar de ideia?

Serginho entre lágrimas respondeu: -- Professora Mafalda, hoje é o dia mais feliz da minha vida. A senhora acreditou em nós, levou-nos ao passeio de pesquisa, deixo-nos ajudá-la, após sua queda, foi atenciosa conosco em todos os momentos, permitiu até que tomássemos banho no riacho e nem brigou, pudemos rolar pela grama, os pais de Marina ajudaram a cuidar de todos nós, a senhora nos tratou como se fosse nossa mãe, a senhora é uma professora especial, nós amamos a senhora, dona Mafalda! E, mais dona Mafalda, hoje quero contar à senhora, porque não tenho vontade de estudar e estou sempre sujo e cansado:

-- Moro sozinho com meu pai que é alcoólatra, e este, quando volta para casa à noite, vem bêbado, me bate, manda-me fora de casa. Às vezes durmo debaixo da nossa casa, às vezes, no valo, com medo de ser descoberto e levar uma surra. Só me alimento quando os vizinhos me auxiliam. Professora já passei muito medo e fome, por isso, não tenho vontade de estudar e nem de conversar. Minha mãe, foi embora com outro homem, meus irmãos foram doados para outras famílias, só eu fiquei com meu pai, mas sinto medo a cada anoitecer.

E hoje, professora, estou tão feliz, que tenho vontade de abraçá-la e a todos os meus colegas  também, e dizer que, vocês são a minha família!

Não nos deixe professora Mafalda! Você nos compreende, nos ensina e até aprende conosco. Eu acho isso maravilhoso! Hoje é o dia mais feliz da minha vida! Gostaria de ter mais dias, como este!

A professora emocionada abraçou o menino, socializou com os colegas a alegria e o motivo, e numa grande corrente de orações, voltaram à escola, agradecidos, eufóricos a contar aos demais, suas peripécias, pesquisas e aprendizagens.

Deste dia em diante, Serginho recebeu bastante apoio de seus colegas de aula, e da maioria dos professores, com os quais dona Mafalda havia conversado,  inclusive, prontificara-se a conversar com a Secretária da Assistência Social do Município, para que, Serginho tivesse atenção, atendimento e pudesse levar uma vida de cidadão.

Momentos inesquecíveis de aprendizagens mútuas!

 

 

 

 

 

Conheça outros parceiros da rede de divulgação "Divulga Escritor"!

 

           

 

 

Serviços Divulga Escritor:

Divulgar Livros:

 

Editoras parceiras Divulga Escritor