Simbolo e Encontro na Poesia - por Carlos Vargas

Simbolo e Encontro na Poesia - por Carlos Vargas

SÍMBOLO E ENCONTRO NA POESIA

Carlos Vargas

 

O tema do encontro é importante na poesia e geralmente está relacionado com algum simbolismo. Entretanto, o que é o símbolo? A noção de encontro pode ajudar na compreensão simbólica? 

Na obra Psicanálise para a Pessoa, Igor Caruso explicou o papel do conhecimento como símbolo no processo de personalização. Para explicar a noção de símbolo, Caruso aborda a questão da percepção, a qual começa com um órgão dos sentidos que fosse apropriado para conhecer certa parte da realidade. Ao conhecer, uma parte da realidade é conhecida, mas outras permanecem veladas.

Caruso também ressalta que o conhecimento possui aspectos objetivos e subjetivos, mas que essa objetividade e subjetividade são abstrações feitas para entender o conhecimento. Quando há um conhecimento "novo", ele será associado com um conhecimento antigo por meio de uma analogia, chamada de "detalhe crítico".

A ambivalência própria do símbolo é um caso especial da lei "pars pro toto" (parte pelo todo). Para Caruso, símbolo é encontro. Ele cita a etimologia da palavra para explicar o sentido em que ele está usando. A partir daí, ele cita as propriedades do símbolo: que este não é uma mônada, não é algo isolado, é histórico. Ele exemplifica que percebemos a unidade histórica da nossa vida por uma sucessão de imagens, mas ele não chega a dar uma definição de símbolo.

É quase como se símbolo e encontro fossem sinônimos: onde está a palavra "símbolo" pode-se substituir pela palavra encontro. Apresento um exemplo tirado de uma poesia que escrevi para o volume 110 da Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos da Câmara Brasileira de Jovens Escritores. O poema citado pretende descrever justamente um encontro, utilizando alguns símbolos:

“Um encontro apaixonado

Queria estar contigo,
Agora, neste instante,
Protegido, num abrigo,
Em um lugar distante.

Livre do perigo,
Aqui do teu lado,
Neste abraço amigo,
Sinto-me amado.

Não queiras ir embora,
Fica aqui, comigo,
Justamente agora.”

O psicanalista Caruso não ofereceu um significado exato para "símbolo", mas lida com a dialética entre encontro e separação. Nos pontos em que a palavra símbolo começa a fazer mais sentido que encontro, ele começa a entrar na lei da parte pelo todo. E a cada propriedade que se manifesta, o sujeito pode fazer relações com outros aspectos sobre símbolo. Se o símbolo não tiver uma transparência que permita visualizar além, ficará opaco. Ocorrendo a opacidade da verdade, deixaria de ser símbolo, pois este precisa deixa transparecer. O encontro simbólico faz ficar patente algo que estava latente. O poeta expressa os símbolos de maneira que eles adquirem transparência, permitindo visualizar algo além, até mesmo um encontro. 

 

Referencias:

 

CARUSO, Igor. Psychanalyse pour la personne. Paris: Éditions du Seuil, 1962

 

________. Bios psique persona: introduccion a la psicologia profunda en general. Trad. de M. E. Burgos. Madrid: Edit. Gredos, 1964.

 

VARGAS, Carlos E. C. A cura como personalização progressiva em Igor Caruso: da opacidade à transparência. PUC-PR: IV Congresso de Filosofia Contemporânea, Curitiba, 2006.

 

________. Um encontro apaixonado. In: MARTINS, Luiz C. Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos, volume 110. Rio de Janeiro: Câmara Brasileira de Jovens Escritores, 2014. Disponível em: https://www.camarabrasileira.com/apol110-019.htm

 

publicado em 01/05/2014

 

 

 

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