Rijarda Giandini - Entrevistada

Rijarda Giandini - Entrevistada

Por Shirley M. Cavalcante (SMC)

 

Rijarda Giandini, brasileira de Fortaleza, casada com Giovanni e mãe de Artur. Historiadora e Internacionalista, mora no Restelo, em Lisboa, desde 2014, para um doutorado em História Contemporânea. É diretora do Instituto da Cidade, em Fortaleza e membro do Conselho da Camera di Commércio Italo-Brasiliana do Nordest.  Traduziu adaptou o conto infantil “Il  Principe Felice”, de Oscar Wilde, para o português e realidade brasileira. Escreveu o livro de Poesia “Inquietude”, ambos inéditos. Possui capítulos de livros e artigos em revistas sobre Cidades Sustentáveis.

“As impressões que relato são reais. Direitos e deveres, em todos os momentos, observados com o espírito desarmado. Viver Lisboa não é nenhum sacrifício. Ao contrário. Amar é uma consequência.”

 

Boa Leitura!

 

Escritora Rijarda Giandini, é um prazer contarmos com a sua participação no projeto Divulga Escritor, conte-nos o que a motivou a se encantar por Lisboa?

Rijarda Giandini - O prazer é meu em fazer parte, agora como escritora, de um projeto que acompanho já algum tempo. Parabéns à equipe pelo “Divulga Escritor”.  O meu encantamento pela cidade é algo sempre em estado latente, às vezes “descoberto” nas entrelinhas de alguns escritores que muito prezo como Camões, Eça, Pessoa, Saramago, Sophia, Cecília, dentre alguns.

Confesso que sou uma amante do Rio Tejo. O Tejo me é fascinante pelo que tem de história, de conquistas, de rebuliços e por sua calma cortando uma cidade que existe indissociável do seu rio. Para mim Lisboa é a moldura do Tejo. As cores refletidas em suas águas acompanham as idiossincrasias do tempo. Talvez seja o meu primeiro encantamento. Depois tem a própria cidade. E por ela tornei-me uma flaneur diurna. Lisboa é solar, com cores espetaculares; a conformação urbana é instigante. As ruelas, becos e escadarias, geralmente nos surpreendem.

Por outro lado, tivemos uma boa recepção dos lisboetas. Especialmente da Universidade por onde faço um doutorado em História Contemporânea. Acredito que foram as junções ou confluências de uma cidade que por não ser perfeita, limpa, é real e preserva ainda alguns modus vivendi muito fascinantes.

 

Em que momento pensou em escrever “Viver e Amar Lisboa”?

Rijarda Giandini - Acredito que foi na primeira vez que vi o Rio Tejo da minha janela. Senti uma emoção forte e indescritível, como se houvesse ancestralidade. Apropriei-me deste canto do Tejo. Contudo, demorei a encontra-lo fisicamente. Mantive com ele uma relação cerimoniosa. “Um resguardo de menina faceira”.

O mais forte, porém, foi o desejo em compartilhar este meu momento com outras pessoas. Pensei em contar, em primeira pessoa, a minha experiência de brasileira, classe média, com filho pequeno, marido músico. Talvez muitas pessoas pudessem inspirar-se ou beneficiar-se com algumas situações que vivenciamos.

Outro sentimento que machuca é a questão da saudade que bate forte, principalmente, dos amigos mais próximos e da família. Dai o processo de escrita servir como uma espécie de catarse. Comecei a passear com os amigos como se aqui estivessem. Levei-os comigo em várias locais. Por exemplo: se víamos uma corrida, em que Lisboa é pródiga, pensávamos no Marcos, nosso amigo brasileiro, morador de Florença, na Itália. Era como se ali ele estivesse em competição.  Fomos ver uma apresentação de fado e uma amiga, professora de Direito Internacional, a Renata em dueto de fado...digo que este livro é uma grande celebração à amizade.

 

Como é viver e amar Lisboa?

Rijarda Giandini - Viver e Amar Lisboa não é difícil por nenhuma situação. Ressalto sempre que a cidade, seja ela qual for, é acolhedora na proporção da nossa relação respeitosa com ela. Neste livro eu apresento um jeito de chegar e permanecer como parte do todo. Fiz valer meus direitos, inclusive para a bolsa de estudos, reclamei quando necessário, sugeri quando assim foi possível. Participei como voluntária de ações da minha Junta de Freguesia. O livro foi escrito sem que ninguém soubesse de sua existência. As impressões que relato são reais. Direitos e deveres, em todos os momentos, observados com o espírito desarmado. Viver Lisboa não é nenhum sacrifício. Ao contrário. Amar é uma consequência.

 

Rijarda, que temas são abordados em nesta obra literária?

Rijarda Giandini - Dividi o livro em dois grandes capítulos. O primeiro é o “Viver Lisboa” no qual eu relato as principais situações prováveis, como as questões de Educação, Saúde, moradia, supermercados, transportes, diversão e entretenimento sem custos, etc. Este é um livro para quem tem um orçamento controlável. Procurei apresentar alternativas de viver bem sem gastar além. As palavras diferentes, as imprescindíveis, a gentiliza e a rudeza dos portugueses, dentre outros temas.

O outro Capítulo é o “Amar Lisboa”. Nele apresento uma Lisboa margeada pelo Tejo. Adentrei os bairros, as freguesias, buscando os espaços ainda pouco explorados pelo turismo tradicional. Visitei capelas, monumentos, parques, jardins. Descobri preciosidades. Vi também muitos descuidos urbanos, lixo nas ruas, um quê de desconforto, que foram fascinantes porque são reais. Perdi-me nesta cidade, como nos perdemos nas grandes paixões. Fiz um sem número de fotografias que ajudaram a captar algumas emoções, deslumbramentos, encantamento e algumas tristezas geradas por maus tratos urbanos.  E com elas fiz a escrita interpretando este meu olhar. Resultou em uma obra agradável que se lê rápido e que faz sonhar. As fotografias assim como fragmentos e noticias do livro estão no blog www.rijardagiandini.wordpress.com

 

Quais os principais desafios para escrita do livro?

Rijarda Giandini - O desafio maior é sempre começar. Não só a escrita. Dar o primeiro passo. Concretizar as ideias, as intenções. Não há receita porque é um processo individual e absolutamente pessoal, único. Escrevi o livro entre os meses de Agosto de 2014 e Setembro de 2015. Propositadamente, optei por fazer com as primeiras impressões, os primeiros olhares, virgens olhares, sem conceitos preestabelecidos. Andei durante 9 meses a pé ou em meios públicos, que são bons. Tive a companhia quase sempre do Giovanni e do Artur, o que tornou o processo mais real, lúdico e compartilhado.

Porém, o maior desafio foi conciliar o primeiro ano do doutorado com o processo literário. Não por este último, mas porque foi um ano em que mudei o foco da minha investigação duas vezes. E cada vez pressupõe novas pesquisas, encontrar orientadores, além das aulas curriculares. Tive, também, uma boa dose de sorte. Todos os orientadores tanto do Brasil quanto de Portugal apoiaram-me nas decisões. E a Universidade sempre esteve presente quando assim necessitei. Enfim, depois de um ano, havia já a definição da Tese, todas as cadeiras cumpridas com boas notas e o livro na editora. As noites insones, o desleixo emocional com os amigos, o cansaço e uma tendinite forte, tornaram-se troféu de um ano rico em desafios. 

 

De que forma estes desafios foram superados?

Rijarda Giandini - Não havia pensado nesta pergunta. Muito interessante. Foram muitos papeis desempenhados simultaneamente. Penso que somente o ser Mulher tem esta capacidade intrínseca de fazer muitas coisas ao mesmo tempo. Sou uma fã incondicional do Feminino. E não tenho nenhum discurso sexista. Acho que temos nossos papeis sociais e temporais, que vão exercidos. Eu sou muito determinada e rápida. Fui e sou produto da minha história. Além das questões propriamente da produção científica e literária, há a lida doméstica. Há o filho de 8 anos, suas necessidades e expectativas. Todos os percursos estão relatados no livro.

Talvez o meu melhor recurso humano seja o meu marido por sua generosidade conjugal importante neste meu tempo. E a nossa fé na Providência que nos acalma e nos faz crer no melhor caminho.

 

Onde podemos comprar o seu livro?

Rijarda Giandini - O livro encontra-se disponível em livrarias e para todos em língua portuguesa através dos sites

Chiado Editora;

Wook;

Bertrand.

 

Quais os seus principais objetivos como escritora?

Rijarda Giandini - Conversar com mais gente. Acho que é quase uma necessidade atávica de falar, de trocar, compartilhar. Gosto de gente. Continuo acreditando que é a maior invenção da Natureza. E se possível falar coisas interessantes, leves, gentis. Exercitar um lado de literatura aprazível que faça viagens de olhos abertos. Lembro-me que na minha infância, quando privada dos bens essenciais, eu lia. Eram tempos de quase absoluta escassez no Nordeste do Brasil. E estas viagens através da leitura, foram fundamentais para sedimentar ou pavimentar o meu caminho. Sem as leituras, provavelmente, meu destino construído seria outro.

Gostaria de ser uma viagem prazerosa para as pessoas. O livro Viver e Amar Lisboa, é leve, é gentil. Não há teses ou discussões aprofundadas. Claro que sou historiadora e vou costurando a narrativa com as informações abalizadas e dentro do contexto.   

 

Em seu perfil vimos que é apaixonada por Itália e Lisboa, em sua visão, conte-nos quais os encantos que os diferenciam?

Rijarda Giandini - A Itália é minha primeira paixão fora do Brasil. Sou encantada com suas cidades pequenas, iguais, de gente que carrega o seu peso. Gosto do sul da Itália, do mar, das pedras... foi para o sul que fui para um sabático que se prolongou por quatro anos! Ali aprendi a colher uvas e fazer a sagrada transformação em vinho; azeitonas, em pés seculares, colheras para o azeite de oliva. Fazer a salsa de pomodoro (molho de tomate) plantados por mim. É um amor maduro este pelas pequenas cidades italianas. Faço meu percurso ao menos uma vez por ano. Giovanni é italiano, do Norte, e é a síntese da minha relação calma, arrebatadora e perene com o País.

 

Com Lisboa, foi algo mais contemporâneo, acho, por conta do meu olhar de hoje. Ela, a cidade, de repente apresentou-se como uma conformação dos meus anseios. Um amor à primeira vista, talvez.  Lembro-me que quando chegamos para o primeiro encontro com a direção da minha Universidade, o aeroporto surpreendeu-nos pela beleza, grandiosidade do shopping internacional e pelo metrô dentro do aeroporto. Ali fomos recebidos, em pintura em azulejos, por grandes personagens portugueses, nos dando às boas vindas. O primeiro encantamento.  Em nosso segundo dia de morada, fomos a um supermercado e um senhor com não menos de 80 anos, nos deu uma “boleia”(carona) sem que eu pedisse...vejo a cidade gentil. Como demonstro no livro Lisboa é uma alternativa muito interessante para quem quer ter uma experiência de moradia. Em termos de custo da vida é relativamente menor do que a Itália e do que o Brasil. Como qualidade de vida é superior nos dois casos.

 

Pois bem, estamos chegando ao fim da entrevista. Muito bom conhecer melhor a autora Rijarda Giandini. Agradecemos sua participação no projeto Divulga Escritor. Que mensagem você deixa para nossos leitores?

Rijarda Giandini - Fico sempre contente quando entre no site do Projeto e vejo mais e mais livros e autores em nossa língua. Tenho muito orgulho de pertencer a esta grande Pátria chamada Língua Portuguesa. Somos um. Divulguem a boa literatura, este é o critério. Ler, escrever, ler. Incentivar o nosso cérebro à leitura.

Quanto ao meu livro “Viver e Amar Lisboa” gostaria que fosse útil para provocar um belo sorriso, para sonhar, para planejar seu estudo nas terras de Camões, e para viajar de olhos bem abertos ou fechados em noites de sonhos.

 

Fragmentos do Livro

 

Rio Tejo:

De frente para a Torre de Belém, sem aproximar-me, deixo voar as gaivotas. Vejo as naus saindo em busca do ouro, das terras, das gentes, das especiarias. Sempre a eterna busca que nos faz levantar dia a dia. Os homens portugueses, deixam suas mulheres, seus meninos, suas fomes para saciar em outras paragens.

Andando! Assim começo a conhecer a cidade. Sem pressa ou pré-conceitos concebidos e cheios de pecados. Como o corpo da pessoa amada, percorro sem juízos. Simplesmente, admirando as curvas, as dobras, os montes. Não há o certo ou o menos.”

Adentrei nos meandros da vida em Lisboa, suas dificuldades, instituições, supermercados, lojas e mercados. Como estudante de doutorado, esposa e mãe vivenciei e fiz valer meus direitos de bolsa de estudo, de subsídios, de cidadã e, os correspondentes, deveres. Viver Lisboa é uma face da moeda. A outra, Amar Lisboa, é quase uma consequência.  “

 

 

Contatos da autora

Rijarda Giandini – Rijarda@icloud.com

Facebook: Rijarda Giandini / Viver e Amar Lisboa

www.rijardagiandini.wordpress.com

 

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