Na ponta da língua - por Patrícia Dantas

Imagem: disponível no Filme O Leitor

            Palavras que se transformam nas histórias das sensações. São enigmas que estão aí para serem decifrados por qualquer um que mostre coragem e uma dose cortante de curiosidade. Elas estão aí, flanando, bailando no ar, prontas para o arremesso, e mais: desejam ser desfrutadas, saboreadas, degustadas, no sentido de borbulhar e despertar calafrios dentro da gente.

Ah, o poder incomensurável das palavras! Podemos observá-las por horas, fragmentá-las como mais uma espécie de embriaguez transcendental, uma pausa na alma, a absorção do cosmo em total harmonia. E temos espaços inenarráveis para isso, talvez o melhor seja no íntimo, a escapada de si para um universo mais original, não banalizado pelo poder do tédio cotidiano.

Vamos tomá-las nos braços, pelas pernas, pela língua, nos intervalos do goles, vamos acariciar seus movimentos nas composições muitas vezes desarranjadas, perdidas dentro do ser como um antro em decomposição. É só nos seguir e encontraremos muitas palavras que precisam ser ditas, escritas, falar ao mundo das coisas dele próprio (o mundo que azucrina tanto a vida das palavras mais desavisadas!). Temos dito com ousadia.

Vamos, vamos, as palavras têm pouco tempo, elas têm urgência em nascer e correr o mundo, são incontroláveis, agitadas, afoitas, incandescentes! Vamos às nossas ansiedades, aos livros, às redes sociais, à televisão, aos jornais, ao rádio, a todas as formas de expressões, pois elas falam. Sairemos à cata como uma multidão de palavras disparadas seja lá para que lado for, contanto que acertemos o alvo, em busca de alguns personagens terão experiências e vivências interessantes. É só questão de juntá-las, dar corpo, movimentos às suas arapucas, dar asas no melhor sentido da liberdade de criação.

Adoniran Barbosa, um dos mestres da Música Popular Brasileira, compôs e cantou o arrebatamento do olhar, quase como o olhar assassino quando dizia que “De tanto levar frechada do teu olhar/ Meu peito até parece sabe o quê?/ Táubua de tiro ao Álvaro/ Não tem mais onde furar”. E podemos fazer o mesmo com as palavras, que elas batam até furar, que perscrutem, que façam sentido, que vivam, que tenham graça e fascínio, não apenas sejam lidas por prisioneiros do tempo, mas por seres livres e libertadores.

É só questão de estarmos lá, cada um, no lugar propício, no caminho passageiro, nas reentrâncias, nas fugas, sem nós para existir ou espernear por pouca coisa; é prestar mais atenção, sentir mais o sangue nas veias, é tecer na perfeição sem limites, vagar nas imperfeições que surgem do caos, fazer teatro dos casos e acasos que mais parecem sem razão de ser, sobretudo, existir nas palavras. Vamos partir como viajantes destemidos numa viagem dentro delas, sem pudor algum.

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Publicado em 04/03/2014

 

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