Lição de Gratidão - por Lígia Beltrão

Lição de Gratidão - por Lígia Beltrão

Lição de Gratidão

 

       Estávamos eu e o meu marido, preocupados com um velho amigo, pois já há alguns dias nós não o víamos nem sabíamos notícias dele. Frequentador assíduo de uma danceteria, sempre seencontrava juntamente com o seu par, na mesma que nós frequentamos em Coimbra. Perguntei ao meu marido se eles são namorados e o mesmo falou-me que não, mas que todos os domingos ele encontram-se para dançar, conversar etc. isso já faz muitos anos. Achei interessante a história deles e admirei aquele laço de amizade que une um homem e uma mulher de meia idade, sem laços, mas ao mesmo tempo enlaçados por um companheirismo nunca visto em muitos casais.

       Ele na casa dos mais de setenta anos é divorciado há muito tempo, e mora sozinho. Ela, também sozinha, leva uma vida calma em sua quinta, a cuidar do dia a dia dos animais e plantações. Têm vidas distintas e ao mesmo tempo tão dependentes um do outro, mas só para dançarem aos domingos.

       Certa vez, vinhamos nós da casa de uma amiga comum, quando encontramos o nosso amigo. Grande e maravilhosa surpresa! Paramos o carro e ele aproximou-se nos cumprimentando alegremente, e o meu marido tacas-lhe a pergunta que não quer calar: - E aí, meu amigo, nunca mais nós o vimos lá na danceteria, o que houve? Já não danças mais?

       Ele nos olha seriamente e responde: - A minha companheira de dança está doente, operou a bacia, e assim eu não posso ir dançar. Meu marido insistindo diz: - Mas lá o que não falta é par para tu dançares... Ele nos olha sério e responde: - Faz cinco anos que venci dois cancros, e ela, como boa amiga que é deu-me toda a assistência que eu precisava, agora chegou a minha vez de agradecer-lhe e fazer por ela o mesmo. Venho até a sua casa, cuido da quinta, arrumo tudo para ela, até que fique boa e possamos voltar a dançar. Somos um par!

       Ficamos olhando aquele homem simples e tão cheio de ricos sentimentos, sem sabermos o que falar. A emoção embargou a nossa voz. Meus olhos encheram-se de lágrimas e vi a beleza de uma amizade construída com pilares sólidos e um amor maior do que tudo. Aquele par realmente guarda uma riqueza preciosa dentro deles, a amizade verdadeira, o amor ao próximo e principalmente a gratidão, coisa tão rara nos dias de hoje. Desejamos melhoras para a sua companheira de danças e seguimos o nosso caminho conversando sobre a lição de amor que nós ouvimos daquele amigo, que para nós foi um grande e caríssimo presente, que ele nos ofertou.

       Ao chegarmos a casa, ainda impressionados com tudo o que tínhamos ouvido, o meu marido começou a escrever a história deles. Ficou linda! O texto foi publicado no Diário de Coimbra, o que nos deixou muito felizes, em saber que milhares de pessoas tiveram a oportunidade de lerem história tão bela e rica de sentimentos. Verdadeiro exemplo para nós, nesses dias de egocentrismos em que estamos vivendo. Cada um se preocupando com o seu próprio umbigo e esquecendo que a felicidade, basicamente consiste em fazer a felicidade de outrem.

Dia desses, fomos à danceteria e lá estavam o nosso amigo e o seu par. São sempre os primeiros a começarem a dançar. São perfeitos. Ela recuperou-se bem e voltaram a dar o show de dança que costumam.

       Na entrada da danceteria chama a atenção o artigo que o meu marido escreveu sobre eles, recortado do jornal, destacado num mural de vidro para que todos ao entrarem tenham a oportunidade de lerem“O par”.

       Quiçá, todos os homens conhecessem ao menos o mínimo do amor!

 

                                                                Lígia Beltrão

 

 

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