Ilusão - por Antônio Eustáquio Marciano

Ilusão - por Antônio Eustáquio Marciano

ILUSÃO

Caro Valter,

       Obrigado por ter aberto esta carta e a estar lendo. Sei que só pessoas de alma nobre e de coração puro como você são capazes de atos de generosidade como este. Sei que você fez isto, mesmo sabendo que o que nela continha, mas uma vez, eram as recordações e as divagações, as histórias fantasiosas, próprias da imaginação de um homem que, por toda a vida foi sonhador. Sei que você faz isto com tanta paciência e amor só por causa da nossa eterna amizade. Amizade que só existe por causa do seu grande coração e não por que eu a tenha merecido. Portanto, peço a você, querido amigo, que a leia até o fim.

       O que vou lhe narrar, velho amigo, aconteceu numa pequena sala ... numa sala de trabalho. Talvez eu possa chamar de consultório. Acho melhor eu antes lhe contar umas coisas. Você sabe como é ... o tempo tem passado muito rápido pra mim. E algumas coisas vêm mudando. Às vezes sinto meu corpo cansando muito depressa. É ... É isto! Às vezes sinto dificuldades para fazer algumas coisas que antes eu fazia com facilidade, como bater uma bolinha, arrumar alguma coisa no telhado da casa, arrastar um móvel. É! Acho que você entende! Já estou vivendo há tanto tempo! Ah, preciso narrar lhe o que aconteceu naquela sala. Era de tardezinha, quando cheguei lá. Eu estava ansioso para lá estar. Era uma sala pequena. Ali havia poucas coisas: uma mesinha, um computador, duas cadeiras, uma pequena estante com alguns livros, uma jarra com água, alguns copos, alguns guardanapos. Na parede havia um quadro. Não entendi o que o artista quis pintar, mas nele havia algo como ... paz. Tudo muito delicado e sóbrio, como sua dona. Já era, talvez, a sétima ou oitava vez que nos encontrávamos e eu estava gostando, cada vez mais, de estar com ela. Eu me sentia sempre um pouco encabulado, é claro, por estar frente a frente com aquela moça bonita, competente, tão séria e, ao mesmo tempo, tão bem humorada e humilde. Eu me preocupava muito com a maneira como devia me comportar perto dela. Eu procurava conquistar o seu respeito, sua simpatia e, quem sabe, sua amizade. Eu estava acreditando piamente naquele trabalho que ela, profissional que conquistara a confiança de tanta gente, pudesse ajudar-me a me livrar de um problema físico pequeno, mas que me incomodava muito. Contudo, apesar de nossos repetidos encontros, em vez de me acostumar e me acalmar, eu ficava mais nervoso e excitado, nos momentos que os antecediam. Naquele dia, então, eu estava mais ansioso por vê-la ... mais feliz. E, justo naquele dia, ela veio me receber na porta do corredor e me saudou com um sorriso. Eu estava feliz, ansioso, mas contido. Olhei seu rosto, que antes era moreno, hoje estava mais claro, mais branco e ela estava mais linda ... tão linda! Sua expressão me pareceu sensual, ansiosa, criança. Parecia-me que ela estava ansiosa, nervosa, mulher que – meu coração dispara quando me lembro – espera o homem por quem, talvez, esteja se apaixonando. Será que estava acontecendo com ela algo parecido com o que me acontecia? Será que eu estava tocando o coração dela? Acho que tudo isto não passava de conjecturas, suposições, fantasias e, com certeza, muito desejo de minha parte de que fosse realidade! Todavia, mesmo consciente disto, nada fiz que visasse a racionalizar o encanto daquele momento que tanto bem me fez. Além disto, uma certeza eu tive naquele instante: eu estava amando aquela mulher. Era a loucura do meu coração que se manifestava com clareza. Senti suave felicidade e o coração bater mais forte, por saber que eu estaria com ela por mais de meia hora, a partir daquele momento, assim podendo olhar de perto o seu rosto próximo ao meu e ouvir sua voz. Juntos, adentramos o ambiente e, como sempre, iniciou me perguntando como passara a semana, se tinha feito os exercícios que ela recomendara e se eles não tinham me incomodado.

       Enquanto a sessão acontecia, eu não conseguia deixar de admirá-la. Quando procurei os seus serviços profissionais, por saber que excelente profissional ela era, eu houvera intuído que conviveria semanalmente, por alguns meses, com uma mulher que saberia me ajudar a resolver os problemas que me apareceram. Porém, confesso a você, caro Valter, que jamais imaginei que ela seria aquele ser humano que considero raro, pela inteligência, meiguice, delicadeza, sensualidade, graça, sensibilidade, pela paz que transmitia ao meu coração. Ela tem os olhos mais singelos, mais puros que jamais conheci! Na sua maneira de conduzir todo aquele processo, na tentativa de recuperação da minha habilidade física e de se manifestar como ser humano, ela me tocou profundamente e me conquistou. Por isto, eu hoje estou meio que “viciado” em estar na sua presença. É isto. Eu estou sempre ansioso por ela. Ela tem sido meu refúgio, meu balsamo, minha paz, meu amor. Ela, sem querer, está me fazendo rever conclusões por mim antes consideradas já definitivas.

       Caro amigo, por causa dela, agora, eu sei o que é amor de verdade. Amigo, ela é a mulher que eu estava procurando por toda a vida e pensava que só existia nos meus sonhos. À medida que fui convivendo com ela, sem perceber, fui me apaixonando. Hoje, não consigo deixar de pensar nela. Amigo, estes momentos iniciais eram os mais difíceis para mim, por ter que me controlar diante dela e não deixar que ela percebesse o que acontecia em mim. Não sei se consegui isto alguma vez. Você sabe como são as mulheres. Sabe muito mais do que nós homens. Percebem coisas que nós não percebemos. São muito mais espertas, inteligentes e perspicazes. Mas como lhe disse, velho amigo, aquele dia era bem diferente dos outros. Ele reservava surpresas para este velho coração. Enquanto ela falava, eu não conseguia deixar de fitar os seus olhos negros e lindos. Eu dizia, no meu íntimo: como eu gosto desta mulher! Como ela me faz bem! Como é bom estar com ela aqui! Comecei a perceber que eu também a estava incomodando de alguma forma. Eu sofria um pouco, pois não sabia se estava sendo inconveniente. Por Deus, eu não queria isto! Ele é testemunha de que lutei comigo mesmo para conseguir o respeito e a amizade dela! Tinha quase certeza de que estava conseguindo isto. Estava convicto de que ela e eu teríamos um bom, amistoso e respeitoso relacionamento. Isto já seria motivo de grande felicidade para mim. Meu velho e querido amigo, Valter, sei que já lhe cansei com minha história, mas peço-lhe mais um pouco de paciência e sei que vou tê-la. Acho que já lhe contei que o Senhor Deus insiste em carregar este pecador. Por mais que eu seja infiel e me afaste dEle, o Senhor tem me desviado do caminho do mal e me dado tanto motivo para louvá-Lo! E ele me daria mais um. Veja, Valter, preste atenção ao que seu velho amigo lhe conta e que é verdade: estarei finalizando agora a narração desta experiência. Só um coração como o seu poderá compreender o que se passou com o meu. Muita coisa aconteceu naqueles trinta e poucos minutos entre ela e eu naquele pequeno compartimento. Como lhe contarei? Bem, tinha de chegar a hora de nos separarmos e isto aconteceu. Porém, só neste momento me dei conta de tudo que houvera acontecido. Eu estava em contido êxtase e tomei consciência de ter vivido nos últimos momentos uma grande e maravilhosa experiência. Tinha vivido um sonho, mas um sonho real. Claro que não saberei lhe contar tudo que aconteceu, mas, alguns momentos, depois, sozinho, concluí: nós namoramos, nós nos amamos. Nós nos amamos muito naquele pequeno espaço de tempo. Tudo que falamos e que fizemos, embora fossem ações de terapia, aconteceu magicamente, sublimemente, amorosamente, apaixonadamente. Nós nos deixamos conduzir pela maior força que pode fazer interagirem dois seres humanos: o amor. Houve forte interação, sem contato físico. Este relacionamento aconteceu como só acontece entre pessoas do bem, da luz, do amor, da simplicidade, da humildade, irracionais, de bom coração, da paz ... de Deus. Sei que nós nos encontraremos mais vezes. Como serão estes encontros, eu não sei. Também não posso lhe garantir que o que lhe conto não são apenas fantasias. A única certeza que tenho é que continuarei lutando para, de alguma forma, tê-la para sempre. Eu amo aquela mulher. Eu a amarei sempre. Ela estará comigo pela eternidade. Velho amigo, esta é a história que eu ansiava para lhe contar. Digo-lhe que sou hoje um homem completo. Tenho a vida, enquanto o Senhor permite. Tenho paz. Tenho você, meu grande amigo, a quem posso contar os devaneios, ilusões, desventuras do meu coração. Mas, sobretudo, posso contar as minhas venturas, como esta que acabei de narrar. Querido Valter, esta mulher linda existe e não está muito longe de mim. Ore a Deus por ela e por mim.

Seu sempre amigo,

Lucas

Obs: nomes fictícios

 

 

 

 

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