Florinda Dias - Entrevistada

Florinda Dias - Entrevistada

Por João Paulo Bernardino – Escritor

 

De nome, Florinda (Flor) para os amigos

Portuguesa, distrito de Lisboa, residente numa aldeia nos arredores de Sintra.

Sou o sorriso que muitas vezes esconde a lágrima, sou a paz que abraça o próximo, sou a menina que cresceu e não parou de sonhar, sou a luz do meu olhar, sou tudo sou nada, sou o jardim o céu a alvorada, sou a Paz que caminha ao longo da estrada... Tudo, posso... Afasta-te pedra, não te atravesses na minha caminhada não ‘derrubo’, construo pontes... Tenho luz, por Deus, sou abençoada...

Sou Eu... Apenas Eu, dentro do meu ‘Eu’.

 

“Até na mais profunda dor, ela nos transporta, nos alivia a alma, o coração e nos leva a voar por aí, como se voássemos nas asas de um condor. O poeta é um sonhador e, definitivamente, defino-me apaixonada pela poesia.”

 

Boa Leitura!

 

JPB – Os meus agradecimentos por aceitar mostrar à DIVULGA ESCRITOR um pouco mais de quem é a mulher e a escritora Florinda Dias. Começo com uma frase sua que muito me emocionou “A menina sorriso sonhou... E mesmo sendo mulher, continua a sonhar”. Explique-nos, que sonhos ainda tem em mente como escritora e, para uma mulher que passou um vida dura, o que recomenda aos escritores que começam agora a dar os primeiros passos?

Florinda Dias - A menina sorriso sonhou porque sempre sonhou, sempre acreditou num dia melhor do que outro! Sou positiva por natureza e mesmo quando não sinto o chão como já o tem acontecido, eu acredito. Não é fácil, pois, dentro da realidade da vida, muitas vezes as pedras no caminho e os tropeços são enormes, mas com vontade e optimismo a vida segue. Sem dúvida, eu nasci pra sonhar, “sem limites” o sonho comanda-me a vida! Não quero perder a vida num sonho! Tenho muitos sonhos, dentro do possível e das minhas possibilidades, claro! Não sou de luxurias, não vivo de ilusões e sei muito bem até onde posso ir. Gosto de saber estar na vida e até aqui tenho sabido. Quanto aos sonhos sobre a escrita, foram situações menos boas que me levaram a escrever, nesses ditos mágicos momentos em que aliviava a alma e o coração e tudo isso muito me ajudou a ultrapassar certos obstáculos. Aos escritores peço-lhes e aconselho-os ‘’para nunca desistirem! Acreditem que são capazes e o sonho um dia será a vossa realidade”. Foi o que fiz e vou fazendo ao longo da minha vida.

 

JPB- É o seu “EU” ao longo dos seus 58 anos de vida que retrata nos seus trabalhos. No seu 1º livro, de poesia “Na essência de uma Flor”, não é excepção. Porquê essa necessidade de retratar a sua pessoa, a sua luz, o seu olhar da vida e do mundo?

Florinda Dias - Esta pergunta-me emocionou-me imenso, ao ponto de cair uma lágrima, acredite! Este meu 1º livro foi de facto um desafio e o que eu podia escrever senão o meu ‘’EU’’? Sou Sagitariana, o que me dá o Alto Astral de ser uma pessoa que gosta de viver a vida em liberdade. Vejo-me como uma pessoa deveras simples e humilde e, além disso, muito sensível. E embora possa ser suspeita ao falar de mim, ninguém me conhece melhor do que ‘’EU” nem sente o meu “EU” tanto quanto ‘’EU’’ e, modéstia à parte, se eu não gostar de mim, quem gostará? Quando comecei a escrever, habituei-me a uma escrita muito simples e própria, sem ser muito elaborada para que todos aqueles que a leem a saibam interpretar da melhor forma possível. Quem me conhece (ou não) irá ler no meu livro uma poesia pura, sentida e emocionante, talvez um todo, um romance poético. “EU’’ me doo assim na transparência. Os meus poemas talvez levem algumas pessoas a senti-los verdadeiramente ao lê-los, deixando cair uma lágrima, porque neles está escrito a minha realidade. Talvez por algumas vezes me sentir mal compreendida, ‘’EU’’ quisesse deixar escrito alguns desabafos, embora não o tivesse feito para provar nada a ‘’ninguém’’. Sei o que sou: da Paz, porque isso me dá saúde, é a base de tudo na vida.

 

JPB- Depois de uma vida dura, como já falámos, hoje será com certeza um prazer ver-se no seio de um casamento feliz, rodeada dos seus filhos já formados e dos seus três netos que abençoam os seus dias. Esse bem-estar, aliado à sua sensibilidade enquanto mulher e à mistura de alguma rebeldia e teimosia, torna-a numa poetisa ainda mais amante da vida?

Florinda Dias - Ah, sim, sem dúvida! Sei e tenho a perfeita noção da esposa que sou, da mãe que fui e continuo a ser, embora os meus filhos já tenham uma vida própria. Também me vanglorio da avó que sou, não tenho dúvidas nenhumas que mais não posso fazer. É o que tenho de pensar e salvaguardar na minha consciência e é isso que me leva a retratar um casamento feliz, é ter a noção que por mais que eu ame os meus pais, filhos e netos, o meu marido é o meu companheiro do dia e da noite, é dele e do seu sorriso que preciso para estar bem na vida. Quanto à rebeldia ou à teimosia não é muita por aí-além (risos), mas tenho noção que já fui bem mais passiva e não lucrei muito com isso. Acho que temos que nos fazer à vida sem medos, embora eu não o seja muito devido à minha sensibilidade! Cada vez mais me convenço que o mundo é dos fortes, e que dos fracos não reza a história! Mas sou o que “basta” para me sentir bastante determinada, sem prejudicar outrem. Senão o fosse, não estava aqui neste momento a responder a esta entrevista.

 

JPB - Essa sua necessidade de soltar o seu grito, de desabafar as suas dores entre sorrisos, emoções e lágrimas, fá-la chegar ao cimo da montanha de forma mais consciente e feliz? De que forma projecta tudo isso nos seus trabalhos e o que pretende ao fazê-lo?

Florinda Dias - O que pretendo ao fazê-lo? Pois bem, aos leitores que gostam de me ler em poesia e aos que leem esta entrevista digo-vos de alma e coração que escrevi um livro onde expus sentimentos, onde deixei deslizar a caneta e as palavras saíam das minhas mãos melodiosas e acreditem que chorei ao escrever. Tentei no papel atender ao chamado de uma menina já senhora, que sentiu necessidade de se expressar perante o mundo! Sim, digo perante o mundo porque filosoficamente falando, toda a pessoa que escreve passa a deixar ao mundo um pouco de si própria. Ficamos mais expostos, deixamos o segredo de lado, porque na verdade o que escrevemos são sonhos ou verdades, sentimentos ou revoltas interiores, ou chamados, o que por vezes é quase um grito que nos sai e que se vai alojar numa simples folha de papel. O que pretendo? Não sei bem, mas de uma coisa tenho a certeza: quero continuar! Qualquer dia poderá sair em livro algo mais, quiçá…

 

JPB – “Eu amo a vida, eu amo-me” por certo não será uma frase egocêntrica mas de quem tem um ego forte de quem venceu aprendendo. Pensa que essa é a mensagem principal a passar nos seus trabalhos? O que dizem os seus leitores a esse respeito?

Florinda Dias - Sem dúvida ‘’Eu amo a vida, eu amo-me”. Não é uma frase egocêntrica, é ego sim. Já passei por algumas situações que me fizeram ficar assim, algumas experiências profissionais e vivência com muita gente de muitos feitios, onde a palavra respeito para mim foi sempre a base. E para isso há que ter uma certa personalidade. Aí eu não poderia ser de outra forma, sei a pessoa que sou, e há que ter no mínimo alguma auto-estima, primando pela delicadeza para saber estar na vida. Senão todo mundo é um tapete para o outro pisar. O que passo aos meus leitores só pode ser a real candura da vida em que vivo. Gosto de estar a bem com o mundo e comigo e quem não quiser viver assim não vive bem ao meu lado. Eu espalho amor quanto baste para todos aqueles que saibam estar comigo. Como já disse, não sou do bem nem do mal, sou da PAZ. O que os leitores vão dizer ao meu respeito só eles o poderão dizer! Sei de fonte segura que por certo uns irão gostar, outros não, é lógico. Agradar a gregos e a Troianos é difícil. Mas é preciso muita coragem para pegar num projecto e escrever um livro. Não é qualquer pessoa que o sabe fazer, porque escrever poesia não se aprende... É um dom, um sublime e suave chamado interior que nos assalta e nos alimenta a veia poética, que nos corre no sangue.

 

JPB – Achei curiosa a forma bem vincada como me confessou que “Fui uma criança que se pode dizer feliz”. Tendo três netos meninos, que legado lhes deseja deixar enquanto escritora? Crê que eles, mesmo com toda esta crise cultural por que atravessamos, poderão também ser escritores?

Florinda Dias  – Fui feliz sim e repito-o. Sou compreensiva e lembro o passado, embora pesado foi um passado feliz, e fui mesmo uma criança feliz. Quanto aos meus netos, vejo e sinto no mais velho de 8 anos (os outros são mais pequeninos ainda não o entendem) muita curiosidade acerca da escrita, e um certo orgulho na avó quando diz “Oh avó, tu és autora podes ajudar-me a criar uma frase para um Brazão, para um trabalho da escola? A avó é escritora!” Ou quando a minha sobrinha neta viu a capa do livro e disse “Oh tia, tu mereces!” Estas palavras vindas de Crianças, que são o que de mais puro tem o mundo, é brutal e lindo de se ouvir. Dá-nos ego e vontade de continuar por eles, por nós, sei lá, e deixar as raízes crescerem. Quanto à segunda pergunta, não sei, mas quem sabe. Mas o meu neto mais velho é um menino muito sensível e vejo nele uma certa veia poética. A opção será dele, vamos esperar a resposta no futuro. Sublinho que o meu Pai também se sente muito orgulhoso de mim uma vez que foi uma pessoa ligada à arte, pois tocou durante muitos anos numa orquestra e ultimamente numa banda filarmónica.

 

JPB – Tem participado em várias colectâneas, uma delas no Brasil, sempre com poemas. Apenas agora se lançou a solo com o livro “Na essência de uma Flor”, publicado há muito pouco tempo. A que se deve essa demora na edição de um livro seu? Ao receio de que a sua família não a aceitasse enquanto poetisa ou ao facto das editoras hoje em dia não possibilitarem veleidades aos novos escritores?

Florinda Dias - As colectâneas foram acontecendo em concursos. Fui selecionada e aí acreditei em mim, acreditei que seria capaz, pois, com uma escrita cautelosa, lembro-me que quando os desafios eram mais elaborados tinha uma certa dificuldade em participar. Mas persisti na luta e ganhei. Estamos sempre a aprender e com isso elaboramos melhor. Terei também a sublinhar que tenho pessoas no mundo da poesia que me ajudaram a chegar aqui dando-me a devida força quando eu me sentia a fraquejar. Vejo muita partilha e amizade neste mundo da poesia. Quanto à aceitação da família e ao meu receio, talvez mentisse se não dissesse que sim! Comecei por ir a Eventos de poesia com a minha filha e aí apaixonei-me completamente pela poesia e pelo seu Mundo. Depois vieram os lançamentos de antologias em que eu entrava como coautora, em que o meu marido me acompanhava e até gostava. Se o meu marido não o aceitasse seria difícil eu estar aqui onde estou! A demora a escrever um livro nem por isso foi muita! Foi mais a indecisão e algumas noites sem dormir para ter coragem de conversar com meu marido. Mas foi lindo quando me respondeu: “aquilo que tu queres sempre tens feito, porque que não o há-des fazer agora?” E agora aí está o meu Livro (“Na Essência de uma Flor”) com todo o apoio de amigos e família.

 

JPB – “Existe no mundo um único caminho por onde podes passar. Onde leva? Não perguntes, segue-o!” (Nietzche). Como se vê daqui a uma década enquanto escritora? O que pensa, nessa altura, ter alcançado e quais os seus verdadeiros objectivos na escrita?

Florinda Dias  – Aqui serei breve na resposta: só o futuro o dirá! O que penso? Um dia de cada vez, mas sempre sonhando e lutando para dar sempre o melhor de mim. E o melhor é continuar a escrever e a sonhar para ser feliz. Quanto a esse lindo pensamento de Nietzche que me dedicou e sublinhou, acho que “o meu caminho é a minha ambição, é a minha história de vida. Não pergunto, simplesmente quero seguir!” Muito obrigada, gostei da sua escolha, tem muito a ver comigo.

 

JPB – O seu registo tem sido, pelo menos até agora, o da poesia. Como define um poeta e, já agora, como se define enquanto poetisa, sabendo desde já que, para si, “o poeta é um viajante de sonhos”?

Florinda Dias - Tanto a dizer o poeta sobre a poesia, essa bendita magia que nos faz levitar por aí, que nos transporta através do mar, do céu, da lua, do brilho do sol, do arco-íris, dum jardim em flor, o amor vivido do amor sonhado, e até... Até na mais profunda dor, ela nos transporta, nos alivia a alma, o coração e nos leva a voar por aí, como se voássemos nas asas de um condor. O poeta é um sonhador e, definitivamente, defino-me apaixonada pela poesia.

 

JPB- A nossa entrevista chegou infelizmente ao seu final mas gostaria de saber se, porventura um dia, os seus netos falarem aos seus próprios filhos quem foi a Florinda Dias (A Flor) enquanto mulher e escritora, o que gostaria que eles falassem de si e o que espera deixar-lhes para que isso aconteça?

Florinda Dias - Quem foi a Florinda Dias, “Flor”, diminutivo do meu nome, que tão carinhosamente as pessoas amigas me tratam! Os meus netos! As minhas riquezas pessoais, um dia (decerto) gostava, mas também não sei se assim o será! Gostava que lembrassem a avó com o carinho necessário, tal como a avó sempre teve por eles e que, com grande orgulho, pudessem guardar e lembrar a Avó com AMOR na verdadeira Essência de uma Flor. Nada mais. Obrigada pela atenção.

 

Contato com o entrevistador João Paulo Bernardino (JPB)

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