Desenvolvimento e preservação - por Mauricio Duarte

Desenvolvimento e preservação

 

A abordagem do “problema” meio-ambiente esteve errada durante muito tempo no passado.  Pensávamos em como subjugar e explorar a natureza para criar desenvolvimento sem destruir.  Porém a verdadeira natureza do homem está de forma intrínseca ligada à natureza do universo.  Daí que não se pode imaginar prosperidade real e integral sem se considerar que a preservação da natureza e a sustentabilidade sejam pontos chave desse processo.  Exploração, extrativismo, agropecuária, pesca, indústria, serviços e demais atividades que o homem exerce devem ser realizadas sob a ordem do compartilhar com o planeta Terra.

Mas até hoje pouco ou nada foi feito para que se mude a matriz energética para energia limpa, para deter o avanço do desmatamento em muitos lugares como a Amazônia ou para eliminar a poluição das grandes cidades.  Nesse contexto, o desenvolvimento e a preservação são antagônicos?  O que tem que ser entendido de uma vez por todas, é que nós, seres humanos, não possuímos o planeta Terra. É a Terra que nos possui. Dessa forma, o “desenvolvimento” ou a “sustentabilidade” só podem existir se ocorrer comunhão com o universo e com o meio ambiente que nos rodeia.  Se dessa mudança de ponto de vista, decorrer a mudança dessas designações, que seja.  O que não se pode negar é que, como diz o Chefe Seattle em 1855: “O que fere a terra, fere também os filhos da terra.  O homem não tece a teia da vida; é antes um de seus fios.  O que quer que faça a essa teia, faz a si próprio.”

Na cosmovisão indígena não existe a ideia de desenvolvimento.  No nosso mundo ocidental há uma perspectiva linear, um processo linear que envolve um estado anterior e posterior, ditos subdesenvolvimento e desenvolvimento, nos quais o centro é a ausência ou a presença de acumulação de bens com vistas a um bem estar.  Existe sim, nessas sociedades indígenas, uma visão holística a cerca do objetivo do esforço humano que é o de buscar condições materiais e espirituais para alcançar e manter o “bem viver”, a “vida harmônica” que em idiomas como o quíchua, se define como o “alli káusai”.

Hoje em dia, muitos desses povos indígenas, no entanto, tem a sua cultura aniquilada lentamente pela introdução do conceito de desenvolvimento, destruindo a filosofia própria de ali Káusai.  Padrões estruturais da vida social e cultural das sociedades indígenas são minados, como as bases de recursos de subsistência e as capacidades de resolução autônoma de necessidades.

O conceito de desenvolvimento, como nós conhecemos, foi concebido em meados da Segunda Guerra Mundial e colocava as ex-colônias no grupo de países subdesenvolvidos (terceiro mundo), classificando as sociedades indígenas destes países como populações pertencentes à uma realidade tradicional, primitiva e, assim, considerando-os como grupos da cultura da pobreza ou entre os “mais pobres entre os pobres”.

Porém a insinuação de que a superação da pobreza indígena só pode ser alcançada com o acesso aos benefícios da modernidade é uma falácia.  E talvez seja uma ideia falsa não só para os indígenas como também para nós mesmos. A crise econômica extrema, o caos social e a destruição ecológica demonstram que o desenvolvimento é um fracasso.

As sociedades indígenas não devem manter dentro de uma redoma de cristal sua filosofia de vida. Ao contrário, a reestruturação de paradigmas dentro dessas comunidades, inclusive adotando dinâmicas econômicas e adaptando-as à realidade do indígena, sem sacrificar as bases locais de subsistência e capacidades autônomas de resolução de necessidades podem ser muito úteis a esses povos.

E nós, como cidadãos da pós-modernidade urbana e dita desenvolvida ou em desenvolvimento, também não devemos nos manter aferrados às nossas concepções de desenvolvimento que pouco ou nada tem feito para contribuir a um bem estar. A utilização e o fortalecimento da filosofia do “bem viver”, da “vida harmônica” no ambiente da família e no espaço local, bem como num contexto mais amplo do governo e das nações, podem nos trazer novos paradigmas alternativos ao “desenvolvimento” que, talvez, tenha nos levado a mais problemas do que soluções. Paz e luz.

 

Mauricio Duarte

 

Referências de pesquisa eletrônica:

Carlos Viteri Gualinga, « Visión indígena del desarrollo en la Amazonía », Polis [En línea], 3 | 2002, Publicado el 19 noviembre 2012, consultado el 24 junio 2015. URL : https://polis.revues.org/7678

 

 

 

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