Descontínuo - por Fernando Jacques - JAX

Descontínuo - por Fernando Jacques - JAX

DESCONTÍNUO

JAX

 

            Existem muitos motivos para um instante. Escute os murmúrios do infinito. Na imensidão sem fim, vaga o espírito. É hora do nada. Em meio às estrelas, passeiam a calma e a solidão. Entre os murmúrios, soa mais forte, repentino, o de uma sombra que se apaga. Ao mesmo tempo, brilha a luz. Brilha, ofusca-se, quase se apaga, sem deixar de vagar como tudo mais ao redor. Sombras e luz alternam-se, incansáveis. O ser perplexo se julga complexo e continua a vagar também. Angústia e euforia bebem da mesma taça, no brinde ao infinito. Ideias em profusão chocam-se e ficam difusas em meio aos murmúrios, soltos no ar, mas sem serem livres. Motivos vãos, motivos trôpegos vão-se amontoando ao ritmo das sombras e da luz. Pisca-pisca, o infinito. Percorre-o, vara a imensidão e veja a volta. Volta e ida, ida e volta. Tropeços. Acima de tudo, reaparece a luz, clara, intensa, brilhante e imperceptível. Tombam estrelas. Vaga a hora. E o espírito a vagar também, no esforço de tudo acompanhar, nada perder. Ora flutua, plácido, ora se sente afundar. Carrossel armado, desliza o tempo. No vai e vem que se prolonga, um sopro gelado sucede à brasa viva. Ilusões, ideias, bruscas visões. Amanhã, retorna o nada. Eis a profecia descolorida… Num breve instante, é fácil imaginar motivos. Veja o espírito que vaga continuamente em busca de caminho entre estrelas e murmúrios. Os motivos o seguem. Motivos que, nesse instante, tentam sê-lo de fato. 

 

Revisão de texto inédito de março de 1972.

 

 

 

 

 

 

 

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