Ana Maria de Oliveira Dias - Entrevistada

Ana Maria de Oliveira Dias - Entrevistada

Por Shiley M. Cavalcante (SMC)

 

Ana Maria de Oliveira Dias nasceu no centro de Moçambique, em 1952. Com cerca de quatro anos começou a ler, por imperativo pessoal de tentar fazer companhia aos pais, que aproveitavam os tempos livres esmiuçando tudo o que lhes pudesse proporcionar algum conforto e actualidade no mundo em que se movimentavam. Boa aluna, foi sempre estimulada pelos professores. Escrevia por gosto, sedimentado na paixão da leitura. Por contingências várias veio para Portugal para fazer a sua Licenciatura em Filologia Germânica. Como professora tentou inculcar o gosto quer pela leitura, quer pela escrita, nos alunos. Escrever por vezes é compulsão, outras vezes necessidade de expurgação. Um espírito crítico, rejeita situações desconformes. Na mole imensa, há necessidade de nos fazermos ouvir e “abanar os alicerces” que descambam para vias inadmissíveis ou “encapotam” males subreptícios. Inquieta, insatisfeita, perfeccionista – sintomas que não permitem dormências. Estar-se vivo é uma benesse gratificante.

 

“Pelo que creio, os leitores da Divulga Escritor serão, também, autores, e, para eles, um apelo: não deixem morrer a verve, não esmoreçam se um dia não sai tão bem;”

 

Boa Leitura!

 

Escritora Ana Maria Dias, é um prazer contarmos com a sua participação na Revista Divulga Escritor. O que mais a encanta na arte de escrever?

Ana Dias - Tenho, antes de mais, que agradecer a deferência e a oportunidade que me foi concedida pela Divulga Escritor. Dependendo do estado de espírito, ou das vicissitudes, escrever é quase um dever, aliciante, apaziguador, de preenchimento de vazios, uma forma de me projectar para além da solidão, do desespero, da minha desconexão com o mundo circundante. É muito variável cada momento de escrita; há sempre uma razão a despontar na ponta do aparo... 

 

Em que momento se sentiu preparada para publicar o seu primeiro livro solo?

Ana Dias - A primeira vez que tencionei publicar o meu espólio (já lá vão cerca de trinta anos), tive que desistir por incapacidade de cumprimento das exigências da editora (em termos monetários). A primeira obra surge como meio de ultapassar uma profunda depressão, e depois de ter rejeitado os tratamentos que me eram impostos pela psiquiatra. «Contos em Noites de Lua Cheia» (2012) resulta numa crítica de costumes; é um retrato com toda a “cor local” da Lourinhã – inacreditável para muita gente, mas absolutamente verídico: doeu-me escrevê-la, mas foi a melhor opção que poderia ter assumido. Muito mais haveria para expor, já a tenho tentado revisar, mas não sou capaz hoje – teve a sua pertinência; resultou como terapia.  

 

Você tem vários livros editados pela EuEdito. Qual dos livros lançados pela EuEdito demorou mais tempo para ser escrito?

Ana Dias - Não é fácil indicá-lo. Tudo depende dos envolvimentos exteriores. Mas as críticas e/ou ensaios obrigam a estudos mais rebuscados. Trabalhar fechada numa concha – vivo só e, apesar de ser hiperactiva, há uma concentração que se perde na minha inquietação saltitante, e na minha inconformação constante. Tudo é variável. Mede-se o “tempo” pela delonga que nos criam as vicissitudes?

 

Ana, nos apresente “Lisboa Anos 70”, pode ser?

Ana Dias - «Lisboa Anos ’70» reúne uma série de escritos realizados durante essa década, desde que cheguei a Portugal. A maior parte (a primeira) contém prosa; e a segunda, poesia. Era muito jovem, mais na minha forma de encarar o mundo que em idade física. Uma sonhadora, alegre enamorada da vida. Vim para Portugal sem outra alternativa, digamos assim, mas quis sempre voltar a Moçambique, onde sempre fui feliz; a vida era descomplicada. Em inícios de Dezembro de1971, escrevi isto:

 

Vou partir

Eu quero partir, esquecer... esquecer...

O manso marulhar dos coqueiros

Chama-me

E eu sinto uma nostalgia indizível

Que me empurra, que me atrai magneticamente

Com força brutal para o berço negro da terra africana

Não queiras prender-me à morte:

Deixa-me ir – eu quero partir!...

Quero sentir minhas veias impadas de sonho cafreal,

Quero ouvir o som longínquo do batuque na sanzala

E imaginar-me rebolando-me ao som trepidante dum Kwela,

Quero drogar meu cérebro com o odor das acácias em flor

Deixa-me partir... esquecer,

Esquecer o ano perdido no caos de uma ilusão

Que se escoou morosamente ao rítmico matraquear da revolta

Deixa-me, deixa-me partir, fugir, esquecer

Tenho os olhos cheios da maresia luarenta da Baía,

Tenho o peito adormecido nas asas das gaivotas bailando dengosamente na ressaca,

E sinto-me morrer ao apelo clangoroso do bananal...

Quero rasar meus braços na lonjura,

Quero abraçar-me à sombra resinosa do eucalipto...

Mas é tão vasto o mar, tão distante o sonho

E eu quero!, quero-me em terra africana!

Quero a nostalgia transformada em poesia!

 

Com relação aos livros que são peças de teatro, qual é a mensagem que você quer transmitir ao leitor através dos enredos que compõem a obra?

Ana Dias - As duas peças de teatro estão insertas num mesmo volume, muito ligeiro, que surgiu por um desafio a que, depois, não respondi.

 

«Rosário de Contas» – peça com XIII cenas relatando vivências e confrontos entre jovens, estudantes universitárias, ou não, de procedências e expectativas bastante diferenciadas. Decorre, principalmente, num lar de raparigas. É de alguma forma autobiográfico, mas o “volte-face” é dado pelas saídas por que cada personagem busca. Um alerta para que as raparigas não se percam nos seus intentos, quaisquer que eles sejam, ainda que as tentações à volta conduzam a desgastes, por vezes desnecessários.

 

«Café-Concerto» – peça em II actos: tentativa de libertação da mulher das grilhetas impostas pela sociedade: é passada essencialmente num bar, onde se acoitam almas solitárias em busca de sons para adormecerem o espírito num copo, que inebrie os sentidos e ajude a aligeirar a pressão da vida.

 

Onde podemos comprar os seus livros?

Ana Dias - A maioria das minhas obras pode ser solicitada à EuEdito, que tem Livraria On-line e que as remete com bastante presteza. Com a EuEdito estabeleci um acordo, que me agrada sobremaneira – serviço limpo, rápido e que não é nada oneroso (para o que se pratica por aí, com as editoras que se conhecem). O meu principal problema é deixar editados, e registados, os meus exercícios de escrita.

 

Você já participou de várias antologias e colectâneas. Qual foi a participação que mais a cativou? Por quê?

Ana Dias - Há várias, todas de poesia. As razões são comuns: os desafios lançados ou me cativaram sobremaneira ou me “apanharam” em maré proveitosa. A das «Décimas», dos Horizontes da Poesia, a «Quatro Poetas», da Papel d’Arroz, a algarvia «Terra Luz» e outras mais que, de momento, não me ocorrem.

 

Quais são os seus principais objetivos como escritora?

Ana Dias - Dizer que não nos importa sermos, ou não, conhecidos, é absurdo – é evidente que todos os que escrevem gostam de ser reconhecidos pelo seu mérito. Os meus principais objectivos prendem-se com o facto de querer deixar tudo “arrumado” e evitar tropeçar em papel disperso por pastas e/ou gavetas – ainda manuscrevo, primeiro, e só depois passo ao computador. Vou sendo (re)conhecida através das Antologias em que participo, o que é bastante recompensador.

 

Pois bem, estamos chegando ao fim da entrevista. Muito bom conhecer melhor a escritora Ana Maria Dias. Agradecemos a sua participação na Revista Divulga Escritor. Que mensagem você deixa para os nossos leitores?

Ana Dias - Pelo que creio, os leitores da Divulga Escritor serão, também, autores, e, para eles, um apelo: não deixem morrer a verve, não esmoreçam se um dia não sai tão bem; há muitos e mais felizes momentos na vida de um(a) escritor(a). Desistir é que nunca.

Muito obrigada à Divulga Escritor. Foi uma honra para mim poder figurar nesta Revista. Bem hajam.

 

 

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