Ana Dantas - Entrevista

Por Shirley M. Cavalcante (SMC)

Ana Dantas é roteirista, publicitária, jornalista, escritora e blogueira. Brasileira, soteropolitana, foi professora do curso de Comunicação Social na Universidade Católica do Salvador (BA) e publicou alguns livros. Após quase 20 anos atuando na área de Marketing Promocional, em São Paulo e na Bahia, resolveu dar uma guinada em sua vida e ampliou seus horizontes culturais na Califórnia (Estados Unidos), onde cursou One-Year Screenwriting, na New York Film Academy, entre 2009 e 2010. Com essa mudança, Ana Dantas aprofundou seu conhecimento na arte cinematográfica e, mais especificamente, no roteiro para cinema. Afinal, acredita que “um homem sem cultura não tem contexto histórico nem referência de vida”. Atualmente, escreve roteiros em inglês e em português, além de dar consultorias nessa área. Seu site profissional é www.anadantas.com

“Gente, pelo amor de Deus... Alguém nesse universo tem que me ouvir: modernizem os trâmites de registro da Biblioteca Nacional! Eles precisam se desapegar de tantos papéis que enviamos para um simples registro. É como diz a propaganda “desapega, desapega!”.”

Boa Leitura!

 

SMC - Escritora Ana Dantas, para nós é um prazer contar com a sua participação no projeto Divulga Escritor, conte-nos o que a motivou a ter o gosto pela escrita?

Ana Dantas - Eu é que agradeço a oportunidade, Shirley. Bem, o que me motivou? Eu acredito que eu tive uma influência fortíssima da minha mãe (in memorian) que era geógrafa e tinha uma bela estante de livros em casa. E da qual herdei todos os livros, graças a Deus (risos). Você veja, dos três filhos que ela teve, eu posso dizer que só eu realmente tomei gosto pela leitura. E tomando gosto pela leitura, também tomei gosto pela escrita. Mas acho que a obsessão pela leitura foi maior quando eu era adolescente e a obsessão da escrita veio com a maturidade. O que me trouxe um olhar mais crítico, justo e questionador para a vida como um todo. Com 13 anos eu já lia “Olga” e escrevia de tudo. Ainda mais que eu tinha uma amiga que era minha vizinha e ela lia muito também. Nós vivíamos trocando figurinhas não só sobre livros, mas também com referência às brincadeiras e até namorados. Eu só lamento que, na época, nenhum professor ou familiar teve a sensibilidade de me incentivar na escrita desde cedo ou quando resolvi prestar vestibular.

 

SMC - Porque você lamenta? Há alguma mágoa com referência a isso?

Ana Dantas - Lamento porque se eu tivesse tido esse incentivo desde cedo, talvez eu não tivesse feito vestibular para publicidade e muito menos trabalhado 20 anos da minha vida com isso. Talvez eu tivesse focado no mundo literário desde cedo. Talvez, talvez, talvez... (risos), mas a verdade é que: quantos talentos não são desperdiçados por falta de incentivo ou oportunidade? Acho que é por isso que, se hoje vejo um talento à vista, seja qual idade essa pessoa tiver, eu incentivo e ressalto aquilo que há de bom nela. É meu dever como cidadã do mundo. E, no fundo, no fundo, não há mágoa, pois ter mágoa e sentimentos ruins para com outros, é perda de tempo. E a vida passa rápido demais para a gente perder tempo com essas bobeiras. Além do que nos traz doenças (risos).

 

SMC - Como foi que surgiu a ideia de escrever seu livro “Teatro Baiano 1990-2000”? Conte-nos um pouco sobre esta obra.

Ana Dantas - Na busca pela minha satisfação pessoal, eu fui fazer minha segunda faculdade: a de jornalismo. Estava tão empolgada que entrei para um grupo de iniciação científica. A intenção do coordenador era que pesquisássemos um assunto inédito. Na época, veio um boom de peças teatrais baianas para São Paulo e, então, defini como tema da minha pesquisa “O Teatro Baiano no Eixo Rio-SP”. Entrevistei Deus e o mundo: atores, diretores, produtores e até secretários de cultura. Quando entreguei a pesquisa, o coordenador me disse que aquilo daria um livro. Duvidei e dei o texto para dois amigos  jornalistas lerem. Eles falaram a mesma coisa. Me convenci. Mudei a pegada do texto e publiquei-o.

 

SMC - Então a obra fala sobre as peças baianas que vieram para São Paulo e Rio?

Ana Dantas - Sim e não (risos). O material coletado ficou maior do que eu imaginei, pois com os depoimentos eu tinha assunto para falar não só das peças que vinham por aqui e porque elas se apresentavam aqui, mas para falar de como surgiu o profissionalismo do teatro na Bahia, de como ele era economicamente viável com citações de cases maravilhosos como foi o da história do Theatro XVIII que com leis de incentivo levava o povo para ver peças teatrais a preços módicos de R$ 1,99 e até da contratação de atores antes desconhecidos do grande público e que hoje são globais. Então, fiz um corte, definindo um período dessa história e surgiu o livro abordando todos esses assuntos.

 

SMC - O que a motivou a escrever para o público infantil através de seu livro “Se Bia Falasse...”?

Ana Dantas - Pense numa pessoa apaixonada por crianças e animais. Pensou? Então multiplique isso por um milhão... Essa sou eu! (risos). Na verdade, além da minha conexão e empatia gratuita pelas crianças, o livro “Se Bia Falasse...” nasceu já sendo pensado para virar cinema de animação. Que é outra arte que sou apaixonada. E como ele fala especificamente sobre o universo de adoção de animais, foi a mesma coisa que unir o útil ao agradável: falar de um tema importante com a leveza que só os animais nos dão através do seu amor incondicional. E, por fim, acho que foi também um jeito de, nas entrelinhas, eu homenagear meus animais.

 

SMC - O livro fala deles?

Ana Dantas - Sim, aqueles gatos são de verdade e, têm suas histórias contadas e ficcionadas no livro. De fato a Bia foi adotada acreditando que ela era um macho e a chamava de Léo, mas quando fui levá-la ao veterinário pela primeira vez, descobri que ela era fêmea e estava grávida de outros 6 gatinhos. Como sou contra o aborto, resolvi assumir a trupe toda até que consegui doar outros 3 filhotes dos que nasceram. Essa é a parte real, mas eu mergulho no mundo da ficção de corpo e alma quando invento as conversas e as tramas do que eles fazem com a tal da mamãe da Vitória, da própria Vitória que é a narradora, e que obviamente elas não existem.

 

SMC - De forma geral, qual o público que você pretende atingir com o seu trabalho? Que mensagem você quer transmitir para as pessoas?

Ana Dantas - Por um lado, as crianças são meu foco principal. Não só na literatura, mas no cinema também. Recentemente eu escrevi um roteiro de longa-metragem em cinema de animação e estou em busca de uma produtora que queira produzir. O livro de Bia, depois que eu terminar de escrever e publicar a trilogia, vai virar roteiro de cinema também. Além desses gêneros, eu tenho mais dois focos: romance e biografias, mas enquanto a pendenga dessa lei não mudar, vou deixando minhas barbas de molho.

 

SMC - Você se refere ao artigo 20 do código civil?

Ana Dantas - Sim. Pra mim, isso aí é a mesma coisa que colocar mordaça na liberdade de expressão. E o mais engraçado é que a maioria desses ditos artistas está fazendo hoje o que a ditadura fez com eles no passado. Eles se comportam como toda elite: quanto mais ganham, mais querem ganhar. É um insulto querer capitalizar em cima da criação literária alheia, mas enfim, às vezes penso comigo que o aprendizado no Brasil é muito mais duro e árduo pela manipulação da ignorância. Será que precisamos perder a história do Brasil primeiro para depois dar valor e voltar atrás? Será que realmente precisa dar dois passos para traz para depois consegui dar um passo à frente? Quem tem medo da verdade é porque foi criado na mentira. Essa é a mecânica da vida: viver para aprender. Eu mesma já desisti de histórias lindíssimas de pessoas anônimas tanto para o cinema quanto para a literatura por conta dessa restrição de autorização vindas de pessoas que não entende nada sobre como o mercado funciona, mas quer ganhar com ele. Enfim... E você me fez outra pergunta, não foi? (risos).

 

SMC - Sim. Que mensagem você quer transmitir para as pessoas?

Ana Dantas - Tudo o que falar ao coração. Se eu tocar as pessoas pelo coração, independente do tema, da história ou dos personagens, eu já vou ter meu dever cumprido como escritora e automaticamente me realizarei como ser humano.

 

SMC - Onde podemos comprar os seus livros?

Ana Dantas - O “Teatro Baiano 1990-2000” tem em algumas livrarias virtuais e não virtuais como a Livraria Cultura

 (https://www.livrariacultura.com.br/scripts/resenha/resenha.asp?nitem=3143265&sid=) ou no site da editora

(https://www.edicoes.com.br/loja/produto.asp?codcat=PER000000&codprod=1133&coddep=2), mas eu já encontrei até em sebos, pois o livro foi publicado em 2004. Já o “Se Bia Falasse...”, por enquanto, o leitor só consegue encontrar no site do Clube de Autores (https://clubedeautores.com.br/book/145948--Se_Bia_Falasse#.UmWDkPmsiSo).

 

SMC - Pensas em publicar um novo livro?

Ana Dantas - Sim, aliás, já está pronto. Trata-se de um livro espiritualista que conta a história da Casa de Oração João Caridoso-Eurípedes Barsanulfo da qual eu sou médium de cura, bem como do que a espiritualidade prevê para a humanidade entre os anos de 2020 e 2050. Em 2011, eu descobri um tumor na minha tireoide e lá eu fiz uma cirurgia espiritual. Eu me curei, fiquei sabendo que era médium e fui convidada pela entidade maior da casa, o espírito do Dr. Marcos C. A. de Campos, a escrever o livro. Entrevistei por mais de um ano não só as entidades espirituais da Casa de Oração como também alguns dos médiuns mais antigos de lá. E surgiu o livro que, por enquanto, batizei-o de “Espiritualidade – A Nova Era”. Agora eu estou dando o distanciamento da obra para depois revisá-lo e buscar alguma editora que se interesse pelo projeto. E, claro, depois darei continuidade a trilogia de Bia.

 

SMC - Ana, hoje, além de escritora e jornalista, você é roteirista, conte-nos como foi que surgiu o gosto pela arte cinematográfica?

Ana Dantas - Por volta de 2008, eu estava pela segunda vez insatisfeita com a minha profissão de publicitária. A primeira crise surgiu por volta do ano de 2000 quando fui fazer jornalismo. Eu vi que eu gostava de escrever, mas não era a escrita do jornalismo que eu queria. Daí, me indicaram um curso rápido de roteiro na Academia Internacional de Cinema ali em Higienópolis. Fiz, gostei e me identifiquei. Em 2009, quando a agência de publicidade multinacional que eu trabalhava demitiu por volta de uns 40 profissionais eu comecei a rezar para ir junto no bolo enquanto as pessoas diziam que eu estava louca (risos). Deus ouviu minhas preces, fui demitida, vendi meu carro, peguei todas as minhas economias e me mudei para a California para fazer minha pós-graduação lá. Dizem que a vida começa aos 40 anos e é verdade. Morei nos EUA por 2 anos, fazendo minha pós na New York Film Academy. A pós era só sobre roteiro para cinema e TV. Desde então, tornei-me roteirista também no meu currículo. Espero que eu não tenha mais outras crises existenciais, pois daí vou virar de vez dona de casa (risos).

 

SMC- De que forma você vem atuando como roteirista?

Ana Dantas - Vixe! São tantas emoções (risos). Desde 2011, eu já escrevi mais de 10 roteiros de cinema e TV. Meu primeiro longa-metragem brasileiro está em fase de captação de recursos e tem outros caminhando pelo mesmo trâmite desse mercado cinematográfico que é tão moroso. Pra você ter uma ideia, das coisas que eu escrevo hoje e que são liberadas para a captação de recursos pela Ancine, se eu tiver muita sorte, nós iremos vê-las na tela do cinema daqui há uns dois anos. Recentemente, ganhei junto com a Ramalho Filmes o edital de criação e desenvolvimento de roteiro inédito e de produção de telefilme no Estado de São Paulo com o projeto intitulado "Caju com Pizza". Ele tá em fase de pré-produção, se não me engano. Fora um roteiro em inglês que está com meu agente nos EUA. Além disso, tenho outros projetos de TV que estão tramitando pelas produtoras e TVs, em termos de venda, e mais dois contratos assinados para escrever duas histórias de vida reais para o cinema.

 

SMC - Quais as melhorias que você citaria para o mercado literário no Brasil?

Ana Dantas - Bem, uma já falamos que é a questão da mudança da lei das biografias não autorizadas e outra... Gente, pelo amor de Deus... Alguém nesse universo tem que me ouvir: modernizem os trâmites de registro da Biblioteca Nacional! Eles precisam se desapegar de tantos papéis que enviamos para um simples registro. É como diz a propaganda “desapega, desapega!”. Nos EUA você faz tudo pela internet, paga pelo cartão de crédito, é tudo muito simples. São menos árvores desmatadas e se tudo for automatizado os erros humanos serão minimizados. Sem falar no prazo de registro que diminui consideravelmente. Nos dias de hoje, isso faz toda uma diferença. Outro dia, eu paguei a GRU pelo próprio site do Banco do Brasil. Pronto, bastou isso para que eu tivesse que dar mil e uma explicações pros caras. E o mais ridículo é que a GRU só se paga pelo BB (risos). E, por fim, acho que as editoras, de um modo geral, deviam abrir mais suas mentes para o que os autores enviam para elas, pois o público precisa conhecer boas escritas, independente se o escritor é famoso ou não.

 

SMC - Pois bem, estamos chegando ao fim da entrevista, agradecemos sua participação no projeto Divulga Escritor, muito bom conhecer melhor a Escritora Ana Dantas, que mensagem você deixa para nossos leitores?

Ana Dantas - Para os escritores eu diria que se você realmente acredita em seus projetos, persistam! Independente do que lhe digam, pois como diria Scott Fitzgerald: “A vitalidade é demonstrada não apenas pela persistência, mas pela capacidade de começar de novo”. Vejam, aos 39 anos eu comecei tudo de novo à base da persistência. E o que ganhei? Vitalidade para a minha alma, fôlego para o meu corpo e paz para a minha mente. Fez até bem pra minha pele! (risos) E para os leitores, eu diria que abram suas mentes e ouse lendo o novo. O novo em todos os sentidos, pois a ousadia além da genialidade intrínseca que existe dentro dela, tem um poder de influência enorme. Sejam, como dizem na linguagem publicitária, “early adopter”. Ou seja, consumam primeiro o que a massa só irá usar daqui há uns 10 anos.

 

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