A Ressureição da Galinha - por Silva Neto

A Ressureição da Galinha  - por Silva Neto

A Ressurreição da Galinha – Por Silva Neto –Divulga escritor

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Não sou pescador, nem preciso repetir a famosa frase do Jack Palace em “Acredite se quiser”. Mas, aconteceu mesmo! Se não acreditarem pelo menos se divirtam com este relato:

Manhã de domingo, dia preguiçoso... Preguiçoso? Não.  A pelada* das cinco da matina tirava aqueles marmanjos da cama, espontaneamente, todos os Domingos, após uma semana de trabalho, bem antes do raiar do Sol.

As mulheres, deitadas e solitárias, entre a sonolência e a vontade de permanecerem dormindo o resto do dia, ouvem apenas os gritos dos entusiastas maridos peladeiros em campo:

Passa a bola, “porra”! Na direita! Na esquerda! Atrasa pro goleiro, porra! Vai! Lança! Manda essa “porra” pro gol! Entra “porra”! Faz o gol! É gol! É Gol, É gol! Gooooooooool! Que gol da “porra”, Meu!

Calma! Entendam bem! Aqui, essa “porra” não tem a conotação pornográfica que deram ao termo. É um desabafo, uma linguagem própria nos campos de peladas em todo o Brasil.

Nos campos de peladas os jogadores não têm nomes próprios. Esse termo é para tudo e todos. É para os jogadores, é para a bola, é para o gol, é para a formação do próprio time:

No gol, porra; lateral direito, porra; lateral esquerdo, porra; zagueiro central, porra; volante... É porra no meio do campo, porra no ataque. Juiz e Bandeirinha é que é porra mesmo!  E, finalmente, o jogo para os perdedores é uma p... total!

E a galinha?!

Bom!... Após a pelada, comentários, cervejas e tudo o mais, um grupo de quatro vizinhos resolveu ir ao Mercado de Água Fria, comprar bugigangas e tomar umas e outras.

Aderbal, Papafigo, Hélio Bocão e Carlos Xalapa adentraram no Chevette do Hélio e, chispa!

Ao chegarem ao Mercado, tomaram uma meiota* com isca de “fígado alemão”* no Box de Dona Xoxa.  Vai daqui, vai dali, uns compraram verduras, outros carnes, outros frutas, acondicionando-as em sacolas pequenas.

O Aderbal, o coroa do grupo, inventou de comprar uma galinha viva e logo foi anunciando, segurando o brinco da orelha:

_ Vou fazer uma cabidela daqui!

_ Vai nos convidar?! Todos perguntaram quase de uma só vez.

_ Claro! Respondeu Aderbal.

O coroa tendo dificuldade em conduzir a ave viva, aproveitou um vacilo da turma colocando a galinha no bagageiro do Chevette sem que ninguém percebesse. Toma daqui, toma dali, partiram para casa.

Ao retornarem ao Condomínio, juntam-se à turma para beberem e continuarem a resenha do jogo.

Aderbal, já de cuca cheia, era um dos mais entusiastas, tanto que, a saída de um e outro para suas casas, ele foi o último a deixar aquela prosa.

E a galinha!

A malvada ficou no bagageiro do carro do Hélio, esquecida por toda a semana seguinte. Ninguém se lembrou da coitada presa ali, tendo como oxigenação apenas os furos da ferrugem naquela lata velha.

Prostrada, lânguida, esmorecida, com as asas abertas, a cauda em leque e o pescoço estendido sem forças para soerguê-lo, apenas os olhos piscavam tênue e o bico abria e fechava. A galinha estava magérrima, um bagaço!

 Foi o que viram ao ser levantado a tampa do bagageiro do Chevette no domingo seguinte.

Curiosos e mais curiosos rodeavam o velho Chevette sem saberem quem havia colocado aquela galinha ali. O Hélio apareceu, sentindo o cheiro da pretensa cabidela vindo do fogão de outro vizinho.

_ Meu Deus! Ficou estarrecido.

_ Manda chamar o Aderbal!

_ Ele é o artífice dessa tragédia!

Risos e gozações de uns, penúria de outros, e em meio aquele furdunço o Aderbal levou a galinha semimorta para casa. Cuidou de alimentá-la com muito cuidado, até que o Milagre da Ressurreição aconteceu.

Não é que ele conseguiu! Trinta dias após vinha ele com a Galinha debaixo do braço, firme e forte, digo, gorda, pronta para ser feito a cabidela. A admiração foi geral. Um mutirão foi organizado para matar, aparar o sangue e cozinhar a bruta, ali mesmo, em um fogo de lenhas na beira do campo. Ainda prepararam uma Placa contendo a seguinte frase:

Cardápio do dia

Cabidela Para Todos, da Galinha Ressurreta.

 

Durante o período em que a dita cuja ficou presa, ainda pôs (botou) três ovos!

É mentira, TERTA? Verdade!  Kkkkk!

 

* pelada= Futebol amador em campo de várzea

*Meiota= A meta de uma garrafa de aguardente.

* Fígado Alemão= Fígado de boi charqueado

 

 

 

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